Viagens à volta do ninho

Muitos dos que me rodeiam ficam bastante espantados com o facto de eu vir para o trabalho de transportes públicos, e mesmo que não o manifestem com clareza, consigo perceber que até têm uma certa pena de mim. De qualquer modo, a maioria das pessoas não têm posibilidade de ter a mesma experiência agradável com os transportes públicos como aqueles que moram no Barreiro.
Para mim a viagem de barco até é agradável e na maioria dos casos permite-me esquecer as desventuras de mais um dia de trabalho. O facto de não vir mais vezes de carro também se deve ao facto de me agradar o estado de dormência com que caminho e sentir que posso dar asas ao meu eu ausente, deambulando sem pensar muito e na realidade reflectindo bastante sobre as coisas.
Hoje, numa das minhas viagens do 81, reparei que a senhora da frente ia muito em baixo e que a meio da viagem retirou da mala a sua agenda que continha uma oração que não hesitou em começar a ler. Como tenho o hábito de ler com cima dos ombros das pessoas também eu acabei por ler a oração. Assim, no fim, e num uníssono surdo, ambas dissemos Amen e saímos do autocarro indo cada uma em sua direcção.
Fiquei mais uma vez convicta de que vale a pena vir de transportes, só para poder contactar com outras gentes, não caindo na tendência miserável de me fechar na minha conchinha e , transformar o conta kilómetros a minha linha do horizonte diária.

Comentários

Anónimo disse…
Subscrevo...
Caganita disse…
Eu não o faço porque não vou para Lisboa, mas acho que iria também de barco, para poder ter aquele bocadinho em que rodeada de tantas pessoas, continuas sozinha, com o teu bocadinho, só para ti, para leres, pensares, ou até mesmo dormir os 5 mins de praxe, em que a cabeça descai.
Fazes bem!
Pedro Ventura disse…
Muitas das palavras que escrevo devem-se ao percurso pendular entre a casa e o trabalho. São pequenos nadas que me despertam do alheamento com que por vezes vou para mais um dia de labor.
Pessoas bizarras, situações caricatas, etc...
Eu, mesmo que a minha carteira me permitisse ir todos os dias para o trabalho de carro, nunca o faria.
Aqueles 15/20 minutos no Tejo são sagrados. A rotina enervante das filas de trânsito não dá para mim. Só com um sedativo e mesmo assim não sei se não chegava stressado e mal humorado.
E depois há um factor que cada vez mais me anda a fazer confusão que é a poluição. O governo deveria de meter portagens durante o dia para se entrar na capital. Uma pessoa já quase não respira em Lisboa... Já chega :-)...

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