"60 à água..."

A partir de ontem à noite passei a ter um respeito profundo pelos motoristas da carris (apesar de saber que é temporário e que deseparecerá no momento em estiver à espera horas a fio pelo 81).
O meu amigo X é motorista da carris e contou-me que a vida destes fiéis trabalhadores dos transportes urbanos da capital não é fácil. Já alguma vez pensaram o que acontece quando o motorista tem vontade de ir à casa de banho? Pois bem, em alguns percursos foram retiradas as casas de banho dos terminais e as soluções são, ou ir a um café onde têm de consumir alguma coisa (se for café, e após cinco Chichis, os senhores estão com os nervos em franja, se for água, e tiverem um funcionamento urológico normal, ainda estão a piorar a situação), ou então "fazer na roda", isto para não falar na possibilidade da calcinha...
Quando a necessidade é maior...a solução é interromper a carreira e aí estão sujeitos a um processo disciplinar.
Se por acaso o motorista for apanhado a deixar entrar ou sair passageiros fora das paragens leva uma multa de aproximadamente 125€, que obviamente tem de pagar do seu próprio bolso. Contudo, aborrece-me que tenham tanto zelo quando se tratam de cidadãos comuns e não apliquem as mesmas regras quando são amigos, ou colegas de profissão. Já me aconteceu estar à espera de alguns motoristas que se atrasaram e que me obrigaram a mim a chegar tarde aos meus compromissos.
Os assaltos são constantes e dignos de qualquer telenovela brasileira. Por exemplo, próximo da Cova da Moura é hábito os miúdos barricarem a estrada com caixotos do lixo ou atirarem-se para o meio da estrada com o objectivo de fazer parar o autocarro. Assim, enquanto uns distraiem o motorista, os outros desligam o motor da viatura, na parte de trás da mesma, para que, quando o motorista saia do seu interior para o ligar novamente, possam roubar o dinheiro da venda dos bilhetes. (Uf!!! que emoção.)
Mas a verdadeira razão desta reflexão, está na Baixa Psiquiátrica do meu amigo X.
Estava ele a chegar à Ajuda, estação terminal, após um longo percurso entre a Baixa da cidade e aquele destino, quando ocorreu a revolta das bengalas. Os velhotes que estavam à espera há mais de meia hora pelo autocarro, e que se acotovelavam por um lugarzinho no banquinho de metal da paragem, levantaram a voz e decidiram agredir o motorista, que quando menos esperava levou uns puxões, com as bengalas nas costas e com um ramo de flores no alto da cabeça. No auge do conflito o meu amigo X deu o grito do guerreiro, fechou as portas da viatura, chamou a polícia e gritou para que todos os encarcerados pudessem ouvir: "juro que se não acabam com isto meto o pé no acelarador e atiro com o autocarro para o rio". Insatisfeito com a reacção dos revoltosos, o X ligou o autocarro e deu aqueles famosos arranques próprios de um motor a diesel e com muitos km feitos. Foi neste momento que os bravos da carreira 60 largaram as bengalas para se agarrarem com tenacidade aos varões de metal, que em várias circunstâncias já lhes salvaram a vida, e perceberam que o motorista não era bom da cabeça, que tinha ar de destemido e de que era o único com agilidade para se salvar da possível catástrofe. Assim sendo, gritaram por clemência e os ânimos acalmaram, tendo o meu amigo X parado o autocarro e respirado de alívio questionando-se se seria ou não capaz de cometer aquela loucura. Na verdade o meu amigo X ficou uns tempos em casa a descansar e a meditar sobre o valor e o sentido da existência humana.
É óbvio que todas as profissões têm os seus problemas, mas ser motorista da carris oblitera qualquer um!!!!!!!

Comentários

Anónimo disse…
E eu que levei com uma reprimenda da chefia porque coloquei a placa de encerrado, na minha bilheteira quando já tinha trabalhado 30 minutos dentro da minha hora de refeição, restando-me apenas 30 minutos para comer????
MA disse…
sinceramente...estes funcionários públicos...sempre a reclamar...

30 minutos é mais que suficiente para almoçar...

aguenta e não chora...

Ass. MuchoMacho
Eva Luna disse…
Pois é meus amigos, o atendimento ao público é difícil e as empresas estão a ficar completamente desumanas. Este meu amigo fiocou mesmo mal, até porque ele é muito boa pessoa, muito sensível e fica magoado pelo facto das pessoas não o conhecerem e começarem logo a ofendê-lo. Mas este é o escape para muitas das pessoas que também sofrem nos locais de trabalho e que aproveitam os transportes públicos para libertar o stress. enfim, temos de aguentar e tentar não nos tornar pessoas amargas.
Anónimo disse…
Não sei quem é o éme, mas tem que andar melhor informado.Os trabalhadores do sector dos transportes não são funcionários publicos.Quem nos dera...

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